Quando decidi ser uma jornalista trabalhava com Organizações e Métodos. Durante os quatro anos de trabalho desenvolvi procedimentos e mais procedimentos, regras e mais regras, manuais e mais manuais e nunca entendia o motivo pelo qual, quanto mais se publica normas e regulamentos, menos as pessoas sabem, menos leem.
Foi na mesma época em que entrei na fase da faculdade e decide que seria uma jornalista, o único profissional que conseguia falar de tudo, sem ser PhD em nada. Na época pouquíssimos profissionais faziam essa faculdade, para se ter uma idéia, formei-me numa sala de 6 alunos.
Foi uma grande surpresa para mim, leiga de tudo, conhecer o que é ser um jornalista. Penso que para o Sr. Gilmar Mendes e para todo o STF também seria. O jornalismo é muito maior que a imprensa por si só. É fato, que o grande valor, a raíz da profissão é a imprensa, mas ser jornalista é ser um comunicador social.
Nosso dever é para com a sociedade, as milhões de pessoas que estão em seu mundinho, isentas, porém não ilesas das milhões de atitudes irregulares que acontecem por aí. Caso não saibam, a principal função do jornalismo é a denúncia. Foi para isso que a profissão foi criada, e é exatamente isso que o STF e muitos outras instâncias querem derrubar.
Quando o Sr. Gilmar Mendes diz que deveria ser única e exclusivamente responsabilidade do "patrão" escolher quem deveria ser um jornalista, ele quer, nada mais, nada menos, do que: "legalizem a entrega da informação aos senhores donos de veículos e mídias", que muitas vezes têm "rabo preso" por ai, e facilitariam, como acontece hoje em alguns canais, a não informação de determinadas coisas e a "remodelagem" de outras.
O povo brasileiro reclama da corrupção existente no país... mas poucos sabem que o Brasil é um dos primeiros, se não for o primeiro, país que mais denuncia corrupção. Recentemente vemos países em guerra, repletos de repressão, cujos jornalistas cumprem seu papel de denúncia, mesmo que escondido. Será que o Sr. Gilmar Mendes e todo o STF também querem esse tipo de profissão? É claro que não!!!! Eles preferem banalizar, desmoralizar a profissão, assim fica mais fácil contornar as irregularidades e dizer que o jornalista X ou Y não sabe o que faz, não sabe o que diz, não tem capacitação. Aliás, o Brasil é o único país que regulamenta as irregularidades antes de cometer grandes fraudes, é só olhar as inúmeras emendas existentes... por que será que a justiça é tão complicada nesse país?
É bem verdade que inúmeros jornalistas renomaram-se sem diploma, mas estes eram idealistas natos. Viveram em outro momento, num Brasil em que se lutavam pelas coisas. Abraçaram uma causa, lutaram por ela, não se conformaram com o que era dito e sacramentado pelo governo, pelo estado e pela sociedade... cometeram inúmeros erros e acertos, e 10, 20, 30 anos depois de prática tornaram-se grandes profissionais. Mas não é assim em toda profissão? Que engenheiro é renomado ao sair da faculdade? Que médico é considerado excelente e tem confiança do paciente assim que sai da faculdade? Muitas vezes acabam com muitas vidas por não executarem bem sua profissão, que é regulamentada!
A verdade é uma só, é mais fácil aceitar o retrocesso em nome do "status quo", em nome da ignorância da população, da ilegalidade, da corrupção, do favorecimento de poucos e do sofrimento da maioria. É difícil consertar um ato ilegal, agora imagina diversos como a imprensa vem divulgando? É mais fácil acabar com o profissional jornalista, desmoralizar a categoria, menosprezar sua profissão...
E quem perde com a queda da obrigatoriedade do diploma não é só o jornalista, que ainda tem um campo gigantesco para atuar como literário, a assessoria de imprensa, o jornalismo empresarial, o jornalismo investigativo etc., mas sim a sociedade. A sociedade que fica à merce do governo, dos poderosos, daqueles mesmo que cometem tantas infrações, não tão grotescas como um maníaco psicopata faria, mas que às vezes é bem pior.
Se pudesse eu diria ao Sr. Gilmar Mendes e a todo o STF que estudar 4 anos de política, sociologia, história, comunicação de massa (que nosso querido Getúlio fazia tão bem, e Hitler também, e alguns poucos acusam o Sr. Presidente Lula de fazer também....), persuasão, psicanálise, cinema, além de todas as formas de se passar uma informação (TV, Rádio, Publicidade e Propaganda etc.), Ética, Direitos autoriais etc. faz de um profissional muito mais do que uma pessoa comum para transmitir uma informação. Nosso excelentíssimo ministro e todo o STF andam pouco informados quanto à prática da profissão.
E o que é que tem!?! Tem que precisa ser muito ignorante, no sentido da nato da palavra, de ignorar os fatos, para ver o que estão tentando fazer... mas, qualquer pessoa consegue ver isso?!
Infelizmente não. É com tristeza que vejo a maioria da população escarnecendo os jornalistas, criticando erros da norma culta quando ditos num momento de pressa, de desconforto da profissão, quando o objetivo principal é alertar a população quanto a uma denúncia... é triste ver pessoas criticando informações passadas e corrigidas, quando o imediatismo da notícia se faz necessário, e há correções, uma vez que se divulga o que se tem de informação... é triste ver que a população continua não se atendo à denúncia... mas sim, ao capricho de querer comunicar também, uma vez que isso está intrínseco ao ser humano... é triste ver que a grande maioria toma por jornalistas apresentadores de TV e Rádio, quando existe uma grande diferença na profissão...
quinta-feira, 2 de julho de 2009
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